Nascido em 1930, Maurício Nogueira Lima foi o mais jovem integrante do Grupo Ruptura, que reuniu artistas abstratos geométricos em São Paulo no início da década de 1950. Ao lado de Waldemar Cordeiro, Geraldo de Barros e Luis Sacilotto, Nogueira Lima desenvolveu uma sólida carreira como artista concreto, tendo exposto pinturas geométricas na III, IV e VI Bienal de São Paulo. Com essa produção, foi convidado pelo artista suíço Max Bill a tomar parte na célebre mostra Konkrete Kunst (Arte Concreta), realizada em Zurique em 1960.
Assim como outros artistas do Grupo Ruptura, Nogueira Lima voltou-se para a figuração logo após o golpe de 1964. Nesse período apropriou-se de imagens dos meios de comunicação de massa para construir trabalhos de alto impacto visual: ídolos do cinema, do futebol e da música pop são protagonistas nas pinturas, assim como sinais gráficos e onomatopeias que denunciavam de maneira velada a violência instituída pelo novo regime. Em 1967 colaborou na organização da lendária mostra Nova objetividade brasileira, ocorrida no MAM-RJ, e assinou o manifesto coletivo “Declaração de princípios básicos da nova vanguarda”.
Em 1973 retomou a abstração geométrica, mas agora com maior liberdade formal. Interessou-se pelas texturas, pelos efeitos das pinceladas e pelo comportamento da tinta acrílica. Criava ilusão de volumes por meio de vibrações cromáticas e, a partir desses estudos, realizou uma série de intervenções urbanas em São Paulo, entre as quais uma na Praça Roosevelt e outra no Minhocão. Na década de 1990 realizou trabalhos pioneiros de intervenções cromáticas com projeção noturna nos Arcos da Lapa, no Rio de Janeiro, e no Estádio Municipal do Pacaembu.
Paralelamente à produção plástica, Nogueira Lima criou cartazes, logotipos e projetos arquitetônicos de importantes empresas e eventos, como a FENIT (Feira Internacional da Indústria Têxtil) e a UD (Feira de Utilidades Domésticas). Vencedor dos cartazes do I e do VI Salão Paulista de Arte Moderna (respectivamente em 1951 e 1957), na década de 1980 MNL projetou painéis para as estações Santana e São Bento do metrô paulistano.
São treze serigrafias que compõem esta pequena exposição. Produzidas entre 1978 e 1995, elas exibem um universo de encontros poéticos entre formas e cores que, somados, resultam em uma estrutura informativa que o artista, Maurício Nogueira Lima, gostava de chamar de linguagem. As obras escolhidas representam uma possibilidade de síntese, a transição da juventude para a maturidade do artista, onde ele se sente mais à vontade para explorar o uso e o diálogo entre as cores.
A nossa percepção de espaço está ligada, principalmente, às formas que o organizam, mas não é indiferente aos sons, cheiros e às vibrações cromáticas nelas presentes. A cor é indissociável do espaço que habitamos e só existe em condições determinadas. Isto é, a cor é uma sensação ótica determinada por uma fonte de luz que incide em materiais que, por suas particularidades físicas, refletem ou absorvem esta fonte de energia em forma ótica de cores pela refração da luz branca. Issac Newton chamava esta refração da luz de espectro pelo seu aspecto imponderável, mas que podia ser mensurável quanto à quantidade de calor/energia do ultravioleta ao infravermelho.
É difícil determinar uma cor verbalmente. Por isso, Maurício considerava o olhar a melhor medida para suas obras, sejam elas pinturas, murais, design, intervenções cromáticas no espaço público. O artista-arquiteto modelava o espaço pela própria física da cor, afirmando certas massas na superfície trabalhada, diluindo a presença de outras. Compunha com a cor como compunha com as formas, sempre com um rigor técnico oriundo de seus anos de formação no Grupo Ruptura, no movimento concreto/neoconcreto e na sociabilidade intelectual paulistana e carioca. Uma das principais mudanças desse período foi no comportamento dos artistas que se profissionalizaram (inseridos no mercado de trabalho como designers, comunicadores visuais, professores, arquitetos) e tornaram disciplinas como a matemática, a física, a geometria, a história e a filosofia em veículos para a criação artística, fomentando a intuição e a sensibilidade por outros caminhos a partir da década de 1950. Nogueira Lima, Geraldo de Barros, Ivan Serpa, Kazmer Féjer, Luis Sacilotto, Waldemar Cordeiro, Hermelindo Fiaminghi entre outros estiveram envolvidos com a pesquisa plástica concreta, com o reaprendizado de técnicas de produção e com o exercício profissional emergente. Uma geração responsável e politicamente comprometida com o trabalho artístico.
A partir dos anos 70, Maurício dedica-se ao ensino de Comunicação Visual e a substituição das formas geométricas planas e da figuração política pop-art por massas de cor que se avolumam, criando a ilusão ótica dos seus possíveis movimentos tridimensionais no espaço linear das telas. O objeto da sua arte é a própria pintura.
O artista direciona a sua pesquisa plástica aos problemas visuais do meio ambiente da cidade de São Paulo, com o intuito não só de oferecer uma cultura artística à população urbana como também para neutralizar a poluição visual, possibilitando melhores condições de vida. Com as serigrafias, Maurício Nogueira Lima buscava a seriação e a multiplicação, visando uma redistribuição social da criação artística, rememorando o início da arte construtivista soviética, solidária e democrática, que tanto o fascinava. O ativismo político, antes trabalhado a partir da semântica pop dos anos 60, ganha efeitos cinéticos de cor numa atuação sensível do artista, preocupado em expandir seus estudos e multiplicá-los entre os pares, os alunos, os professores, os amigos e público. O que ele sentia, enquanto artista e ser humano, não diferia do que os outros sentiam. Em suas palavras, “[…] concretizo, com formas simples e compreensíveis, as contradições que existem, numa linguagem visual direta e não verbal. Uso os recursos que sei manipular: formas e cores.”
maurício nogueira lima
forma e cor
exposição
Biblioteca Octavio Ianni
Instituto de Filosofia e Ciências Humanas
Universidade Estadual de Campinas
16 de outubro a 13 de novembro de 2018
curadoria
Stela Politano
assistência curatorial
museologia
montagem
Ana Carolina Vigorito
material gráfico
Mateus Silva
apoio
Instituto Maurício Nogueira Lima
Universidade Estadual de Campinas
Pró-Reitoria de Extensão e Cultura
Diretoria de Cultura
impressão
Gráfica da Unicamp